sexta-feira, 19 de junho de 2009

Relação passional.



Acho muito engraçada certas relações que temos com as coisas em si.
Uns mantém uma relação de amor com alguma coisa, podendo ser objeto, pessoa, animal, enfim, uma relação que muitos chamam de saudável.

Aí vocês podem se perguntar, mas por que engraçada?
É simples, eu não acho que ter o tal dom seja algo apenas bonito de se admirar, mas engraçado. Engraçado porque parece que alguns têm em demasia e outros, como eu, não.

Eu, desde a infância, sempre admirei a música. Sempre desejei ter um "dom". Se existe este tal de dom, ou se isso é só uma palavra cristã para uma aptidão, não vem ao caso agora. O que me importa é relatar meu caso de amor e de ódio com a música.

Tudo começa - desculpem-me pelo clichê das historinhas, mas prefiro assim- quando resolvi trocar minha chupeta por um microfone da Xuxa. É, isso mesmo. Eu troquei uma coisa plástica e altamente prejudicial ao meu organismo por algo também plástico, mas que me faria sonhar.



Então ganhei aquele microfone cheio de pêlo e com luz. Ele era o meu encanto. Eu ficava em frente ao espelho fingindo cantar.

Lembro-me, também, de ter ganho um pequeno tecladinho. Ah, eu também tinha um pianinho, era de madeira, pequeno, azul e fazia um som estridente. Presente de meu pai.

Também tive uma gaitinha. A tive porque vi em algum filme alguém tocar, então também queria. Em vão.

Nada como ilusões infantis!

O tempo passou, e muito, mas nunca deixei de pensar na maldita e bendita música.

Em minha casa sempre existiu rastro de algum instrumento. Sempre tivemos um violão. Já tivemos, também, uma guitarra e um teclado. Eu sempre desejei, mas minha hora nunca veio.

Em um certo dia resolvi tentar. Para isso contei com a ajuda de um amigo. Ele me apresentou, de fato, o violão.


Notável aquele som puro, doce...
um som que pode ir da mais singela harmonia até ao mais agressivo acorde.
Foi paixão à primeira vista.

Então me deixei seduzir. Fui tentando. Aprendendo aqueles acordes simples e também aqueles mais doloridos. Calos foram criados nas pontas de meus dedos magros e ansiosos por mais.

Mas, como tudo em minha vida, eu tive meu momento de ódio. Decidi largar o violão. Foi um rompante. Apenas me decidi. Eu queria ser grande, antes mesmo de ser pequena.

Então hoje fico a pensar em algumas lembranças minhas.

Minhas recordações de infância não são tantas quantas eu gostaria. Mas tem algo que me recordo muitíssimo bem. Eu era uma pequena menina deitada em minha cama. Ela se achegava a mim com o violão e tocava para eu dormir. É uma doce recordação. Não há falha nesta memória.

Então isso fazia parte da miha vida. Ela foi uma inspiração. Acho que nasci para gostar.

Tempos mais tarde eis que me ressurge um conhecido...
há anos não o via, porque ele é um nômade; um ser incansável e que mora no mundo. Uma pessoa que aos poucos eu aprendi a respeitar e a gostar.

Ele tem um talento. Para mim, sim.



Minha antiga paixão retornara...
meu velho violão voltara.
Era um novo tentar.

Durou alguns meses...
ele foi-se embora, de novo, e com ele, a minha vontade.

Eu iria conhecer os clássicos, mas me deixei levar pelo pessimismo.

Uma relação muito engraçada mesmo. A minha é um tanto quanto peculiar. É um querer fugindo; um tentar desistindo. Acho que tem a ver com muita coisa em mim mesma. Não que eu seja de desistir, mas de tentar e fraquejar, escorregar. Ah, mas isso é o normal da vida; o normal para cada um de nós.

Só sei de uma coisa.
Pestanas me machucam.