domingo, 4 de julho de 2010

Bandas de Heavy Metal no ES: uma pequena discussão



Bandas de Heavy Metal no ES: uma pequena discussão

A dura realidade do Heavy Metal no estado.


Bruna Sperandio


Gosto de um tipo de música que muitos veem como suja e underground. Falar em Heavy Metal e suas vertentes causa repulsa em muitos por aí. A sociedade aparentemente não suporta esse estilo. Mas você ao menos já tentou dar uma chance ao Metal, ou ficou com a versão de que Rock é coisa do capeta? E já parou para pensar como é ter uma banda de um estilo desses no Espírito Santo? É isso que vamos discutir aqui, com dois caras que estão por dentro do assunto. Bem vindo ao mundo subterrâneo do Rock!

Começo a conversa com Filipe Vighini, 21 anos, guitarrista da banda de Grindcore/Death Metal I Shit on Your Face¹. “Desde novo gosto de ir a shows. Fui atraído pelo estilo, pois sempre gostei de guitarras com distorções, baterias rápidas, etc. Então decidi tocar em bandas de Heavy Metal porque é o som que mais gosto. Já tive algumas oportunidades de tocar em outros estilos, mas recusei”.

Filipe em ensaio

Filipe assume que ter banda de Metal mais pesado não é fácil, e que seria um erro pensar em lucro e suporte nesse universo. “As dificuldades são muitas, pois não temos nenhum tipo de apoio, nem mesmo recebemos cachês. No meu caso, continuo tocando porque é prazeroso para mim”.

Para o vocalista do Final Judgement, banda de Heavy/Thrash Metal² - que aos 13 anos começou a se interessar pelo Heavy Metal por causa de um CD do Metallica -, Bernardo Tomaz, 24 anos, lembra: “Comecei a me envolver com banda quando vi a do meu tio, o Silence Means Death, abrir o show do Sepultura, no Álvares Cabral, em 2006. Já tive uma banda de Hard Rock, e quero um dia ter uma de Country, mas o som que mais curto mesmo é o Heavy Metal”.

Para Bernardo, as dificuldades em ter grupos que tocam esse som residem na falta de selos e gravadoras, assim como na ausência de casas de shows bem estruturadas e de fácil acesso. “Infelizmente é muito ruim ter banda no estado, porque tudo gira em torno de dinheiro, e o que mais tem é gente que reclama de preços. Em São Paulo, um evento de metal com 150 pagantes é um desastre; já aqui na Grande Vitória, 150 pagantes é um sucesso”.


Bernardo pousando para a foto do CD do FJ

Então, eu, curiosa, questiono sobre o processo de gravação de trabalhos dessas bandas. Filipe explica: “No estúdio, você grava um instrumento de cada vez, e tem que ficar tudo certo, ou terá que ser gravado novamente. A faixa de preço para fazer um trabalho é de R$ 2.000,00. Quanto ao material produzido, vendemos uma parte e deixamos outra para fazer troca de materiais com bandas dentro e fora do país, o que acaba sendo lucrativo para nós, pois além de vendermos nosso material, conseguimos, com a troca, divulgar nosso som”. Já Bernardo diz que a gravação “é um processo longo e as bandas precisam tomar a decisão correta, pois na maioria dos estúdios ou se paga por música ou se paga por hora. Quando se paga por hora, normalmente a banda consegue economizar bastante, mas a qualidade sempre deixa a desejar”.

E o público, compra as demos? Segundo Bernardo, sim, porém... “Infelizmente é fogo de palha, pois, geralmente, ele compra, ouve, e fica nisso, não há uma procura para conhecer mais a banda”. Quando se fala em público, os dois compartilham opiniões semelhantes. Eles enfatizam que o público que vai aos eventos não é grande, mesmo em show de bandas de fora. No entanto, a maioria dele é fiel. “Não são eventos que dão público como em um show de Sertanejo, por exemplo, mas existe um público fiel sim”, assume Filipe.

Falando em pessoas que vão a eventos, resolvi então, falar com um cara que frequenta o cenário. Seu nome é Ramon Ahnert, e ele, além de ser estudante, tem 21 anos e fala: “Comecei muito novo a escutar Rock 'n' Roll. O Heavy Metal veio naturalmente, e me recordo que a primeira banda que ouvi desse estilo foi Judas Priest. Na época, não tinha conhecimento sobre o grupo, só sei que o som me agradou. Depois disso, fui procurando outras bandas, e assim, conhecendo melhor o metal pesado”.

Ramon também afirma, para mim, que mesmo antes de ouvir esse tipo de som, não guardava nenhum preconceito, e ele completa sua participação: “Mesmo o estado tendo pouco público, aos poucos bandas boas estão vindo tocar aqui”.

Outro ponto importante dessa discussão é os locais onde acontecem os shows. É consenso que aqui no estado, focando a Grande Vitória, não existem muitos lugares para a realização de eventos desse tipo. Os poucos que ainda abrem suas portas para o gênero musical são a Caverna do Simpson, em Jucutuquara; o Teacher’s Pub, na Praia do Canto, e o Yard of Rock, em Jacaraípe. Há algum tempo, existia também o bar Entre Amigos II, na praia de Itaparica, e o Porto Pirata, em Alvorada. Já o Anchietinha, em Jucutuquara, de acordo com Bernardo, não tem realizado eventos de Heavy Metal porque os próprios produtores afirmam que o ambiente não tem acústica boa para isso.


[CONTINUA]

9 comentários:

Ramon disse...

Muito bom o texto, Bruna.
Nem sabia que eu iria aparecer, foi uma surpresa quando li meu nome...huaua..
:D

Adriano disse...

E desses lugares, o único que salva é o Yard of Rock com sua estrutura profissional. Shows de metal não combinam com o ambiente/acústica do Teachers Pub, que possui uma aura intimista.

O Anchietinha tem uma acústica terrível na parte de baixo, além do calor insuportável. Na parte de cima é o ideal, porém a vizinhança não aprova, e por isso já houveram problemas com a polícia.

Sinto falta do Entre Amigos 2 e o Bella Roma, ambos em Vila Velha, mas que não se encontram mais entre nós. E o próximo a fazer parte dessa lista é a Caverna, que está para fechar as portas. Nesse último caso, eu admito que não vou sentir muita falta, já que fui lá poucas vezes, mas é triste saber que o espaço para a cena underground está ficando cada vez menor.

Vicio disse...

Fico com a versão: Solo é para minhoca.
Metal é chato de mais.

Bruna Sperandio disse...

Bem, cada um com a sua preferência, achismos, bláblá ^^

Manelwar disse...

Tem é que agradecer que existem vários lugares e várias bandas no estado. No meu tempo a gente só tinha o camburi video e umas 3 ou 4 bandas que se revezavam entre os shows.. publico de 20 a 30 guerreiros.. os mesmos de sempre.. hoje tá é bão demais em comparação aos anos 90...

Andre BlackSmith disse...

Pessoal de Vitória, tenho uma pergunta a fazer: passados 3 anos deste post, como está a cena hoje para os bares? E dentro do próprio metal, a galera daí aprecia mais o quê? Heavy 80, Hard Rock, tipo Led, ACDC, ou estilos mais internos como melódico, thrash e death têm público? Sou um pequeno empresário a fim de me instalar aí em 2014 e penso em abrir um espaço com bar com música para até 100 lugares. Sei que há uns 2 bares que trabalham com rock (Vix Pub e O'Frank), mas senti que a pegada é mais light. Qual é a opinião de vocÊs? Abraços.

Andre BlackSmith disse...

Pessoal de Vitória, tenho uma pergunta a fazer: passados 3 anos deste post, como está a cena hoje para os bares? E dentro do próprio metal, a galera daí aprecia mais o quê? Heavy 80, Hard Rock, tipo Led, ACDC, ou estilos mais internos como melódico, thrash e death têm público? Sou um pequeno empresário a fim de me instalar aí em 2014 e penso em abrir um espaço com bar com música para até 100 lugares. Sei que há uns 2 bares que trabalham com rock (Vix Pub e O'Frank), mas senti que a pegada é mais light. Qual é a opinião de vocÊs? Abraços.

Andre BlackSmith disse...

Pessoal de Vitória, tenho uma pergunta a fazer: passados 3 anos deste post, como está a cena hoje para os bares? E dentro do próprio metal, a galera daí aprecia mais o quê? Heavy 80, Hard Rock, tipo Led, ACDC, ou estilos mais internos como melódico, thrash e death têm público? Sou um pequeno empresário a fim de me instalar aí em 2014 e penso em abrir um espaço com bar com música para até 100 lugares. Sei que há uns 2 bares que trabalham com rock (Vix Pub e O'Frank), mas senti que a pegada é mais light. Qual é a opinião de vocÊs? Abraços.

Adriano disse...

Quem diria depois de três anos esse post teria interessados. Muito legal!

Quando se fala de Vitória não se pode ater apenas à cidade, mas sim toda à sua grande Região.

Em Vila Velha está situado o maior bar de metal/rock de toda grande Vitória, que é o Correria Music Bar, do Paulo. O bar é bem grande e possui uma área separada acusticamente para o palco, que é grande e possui estrutura de som bem decente. Todo final de semana há eventos e durante a semana funciona como qualquer bar, às vezes com música ao vivo. Segue link do perfil no Facebook: https://www.facebook.com/correriaproducoes?fref=ts . A cena está bem diversificada, com bandas de vários estilos fazendo trabalho autoral e algumas covers se apresentando de tempos em tempos. Difícil destacar um estilo que faz mais sucesso por aqui, mas posso dizer que o Heavy Metal tradicional é quase inexistente.